No
interior do Ceará, sertão onde a seca castiga milhares de pessoas e
animais, os moradores do Assentamento Logradouro II, do município de
Canindé, encontraram uma alternativa para enfrentar os efeitos da
estiagem. Lá eles cultivam a palma forrageira para alimentar a família e
os animais.
Com o anúncio do Plano Safra Semiárido, na ultima
quinta-feira (4), uma nova medida do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA) vai alavancar a produção de palma. O Programa de Aquisição
de Alimentos (PAA) ganhou nova modalidade. Agora, agricultores
familiares que tenham excedente de forragem animal (silagem ou palma
forrageira) poderão vendê-lo por meio do PAA. E o limite de venda por
agricultor foi ampliada para R$ 8 mil/ano.
O que tem facilitado, ainda mais, a produção de
palma, que começou há um ano no Assentamento Logradouro II, é a
utilização da retroescavadeira que o município recebeu do MDA, seja para
escoamento da produção ou para abertura de cacimbas. A ação, que faz
parte da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2),
integra o conjunto de ações planejadas pelo Governo Federal para
combater os efeitos da seca e melhorar as condições de convivência com o
Semiárido.
O agricultor Francisco Antônio Sebastião Neto, 33
anos, vive no assentamento há mais de 20. Ele conta que está ansioso
para ver a máquina começar a trabalhar e melhorar a condição de vida de
muita gente que mora na zona rural de Canindé. “Vai ser muito bom para
gente. Juntando o trabalho da retro e a plantação de palma vamos
diminuir muito os prejuízos da seca”, diz.
Palma: receitas variadas
Suco, pastel, panqueca, salada e até sobremesas como
mousse e sorvete podem ser produzidos, utilizando como matéria-prima o
broto da palma forrageira. Iraci Amorim, técnica da Secretaria de
Agricultura de Canindé, é quem ensina as receitas inovadoras para 38
famílias de Logradouro II. “A palma traz muitos benefícios para o
consumo humano. Ela é rica em dois nutrientes muito carentes na
culinária nordestina. O ferro, que é bom para anemia, e a vitamina A,
boa para a visão”, explica.
Iraci comenta que no preparo da comida o que se usa
da palma é a parte interior do broto, que é o filho da palma adulta.
“Ele é cheio de espinhos, por isso tem que tirar a casca e usar só a
parte de dentro. A casca pode servir de alimento para os animais, porque
os espinhos não os machucam”, observa.
Máquinas garantem ajuda extra na seca
Para o presidente da Associação dos Assentados do
Imóvel Logradouro II, Raimundo André de Souza, 61 anos, as novidades
agradam. “A máquina vai ser boa porque vai nos ajudar a escoar a
produção e a abrir cacimbas. A palma a gente pensava que era só para
alimentar os animais, mas descobrimos que não. Nós também podemos comer
e, ainda por cima, fica gostoso, fica bom demais”, comemora.
Raimundo mora no assentamento há 25 anos e conta que
já sofreu muito com a seca. Para ele aprender essa medida alternativa é
uma alegria imensurável para toda comunidade. “A gente planta milho,
feijão, mamona, melancia, cria uns animais, mas vem o período de seca e
acaba com quase tudo. Tivemos que vender grande parte do nosso rebanho
este ano, mas agora que estamos plantando a palma dá pra amenizar muito a
situação”, atenta.
O secretário de Agricultura do município, Francisco
Amâncio, afirma que a palma pode ajudar muitas comunidades sem condições
de enfrentar os efeitos da seca. “A palma é resistente à seca e
contribui com o desenvolvimento das regiões áridas e semiáridas. Ela
pode ser usada na produção de medicamentos, conservação e recuperação de
solos, cercas vivas e, agora estamos vendo que, também, na alimentação
humana”, destaca.
Conforme o secretário, a máquina retroescavadeira vai
ser um grande apoio na plantação de palma. “A secretaria doou mais de
três mil raquetes de palma para comunidades de Canindé. Com a máquina
poderemos ajudá-las a melhorar sua produção”, salienta.
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