Futuro do planeta depende de planejamento familiar e agricultura
Cientistas discutem como lidar com uma possível explosão populacional
Natasha Madov, enviada a Washington | 20/02/2011 18:45
O primeiro bilhão chegou apenas em 1804, o segundo em
1927, e os seis bilhões chegaram menos de 100 anos depois, em 1999. Este ano, a
população mundial chegará a sete bilhões de pessoas, e a ONU prevê que, até
2050, seremos nove bilhões no planeta, e chegará a seu auge em 2075, com 9,5
bilhões de pessoas. Como prover qualidade de vida para tanta gente?
Esta é a pergunta levantada em um painel científico que
acontece esta tarde na reunião anual da Sociedade Americana para o o Avanço da
Ciência (na sigla em inglês, AAAS).
Foto: Getty ImagesAmpliar
Mãe alimenta filho em Délhi, Índia: países em desenvolvimento terão que reforçar planejamento familiar
A solução está, em parte, no controle de natalidade. John
Casterline, professor de sociologia da Universidade do Estado de Ohio, afirmou
à imprensa que existe uma forte demanda não atendida por métodos concepcionais
em países em desenvolvimento, em especial na África Subsaariana e sul da Ásia.
“Uma em quatro mulheres africanas em um relacionamento estável dizem não querer
ter mais filhos, mas não usam contraceptivos”, afirmou. Na Ásia e na América
Latina, esse percentual é de 17 a 18%.
Incentivar o planejamento familiar é mais importante do
que esperar que as tendências de famílias pequenas migrem de países
desenvolvidos para o Terceiro Mundo. “O fornecimento de métodos contraceptivos
respondeu por 44% do declínio da fertilidade em países de baixa renda. O desejo
por poucos filhos foi responsável por apenas 13% desta diminuição”, disse
Casterline. “O controle de natalidade é um dos grande sucessos de saúde pública
deste século, e as pessoas não se dão conta disso”.
Segundo o sociólogo, a população prevista para os países
em desenvolvimento em 2050 é de 6,25 bilhões de pessoas, mesmo com a alta
mortalidade causada pela epidemia de AIDS na África. Mas políticas públicas de
planejamento familiar poderiam segurar este crescimento, evitando até 250
milhões de nascimentos.
Escassez de alimentos
Durante o painel também foi discutida uma iminente crise
global de alimentos. O problema, segundo os especialistas, está mais na
qualidade do que na quantidade. Metade dos cereais cultivados no mundo são
destinados à alimentação animal e biocombustíveis, e a prática agrícola está
cada vez mais insustentável.
Mais sobre a conferência da AAAS
O desafio é duplo, segundo Jonathan Foley, professor da
Universidade de Minnesota: “Não se trata apenas de alimentar 9 bilhões de
bocas, e sim como fazer isso de maneira a continuarmos tendo um planeta
viável”.
Jason Clay, vice-presidente do WWF (World Wildlife Fund),
acredita que a solução passe por engenharia genética, para melhoramentos
genéticos das culturas (que não são a mesma coisa que criar alimentos
transgênicos, ressaltou), reduzir o desperdício e melhorar as prática
agrícolas. “Os melhores fazendeiros produzem 100 vezes mais que os fazendeiros
ruins. Temos que focar neles”.
Até onze bilhões de pessoas
John Bongaarts, presidente da ONG Population Council,
acredita que as estimativas populacionais dependem de vários fatores, com
resultados imprevisíveis. “A trajetória é ainda incerta e depende que algumas tendências
continuem como estão”, explicou Bongaarts, se referindo à baixa taxa de
fertilidade verificada na Europa, por exemplo, e a expectativa de vida
continuar igual.
Mas se o número de filhos por família em países com
baixas taxas de fertilidade aumentar, e a longevidade exceder os 100 anos de
vida antes do fim do século, a população pode facilmente chegar a 11 bilhões de
pessoas. Mas o inverso também é verdadeiro: se a expectativa de vida se
mantiver e as taxas de natalidade nos países em desenvolvimento diminuírem,
pode ser possível segurar a explosão populacional. “O futuro não está escrito
em pedra. Cabe aos governos agir para reverter esta tendência”, diz Bongaarts.
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