Milho: a energia da agricultura familiar
O milho é considerado um dos produtos mais
importantes da agricultura brasileira, importância que se reflete no
aumento dos investimentos feitos pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário
(MDA) nos últimos anos. A cultura é a que mais recebe custeio do Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), capitaneado pelo
MDA, ultrapassando a marca de R$1,3 bilhão em investimentos em 2011. O milho
também fica com a maior parte do valor destinado ao Seguro da Agricultura
Familiar (Seaf) - dos 92 mil pedidos de cobertura recebidos na safra 2011/2012,
mais de 45 mil são de milho. Mais de 153 mil agricultores receberam o pagamento
do seguro Garantia-Safra, referente à safra 2010/2011 - estima-se que todos têm
o milho como uma de suas principais culturas.
“Ao todo são mais de 1,1 milhão de produtores de
milho segurados pelo ministério”, informa João Luís Guadagnin, diretor do
Departamento de Financiamento e Proteção da Produção da Secretaria de Agricultura
Familiar do MDA. “Para o agricultor familiar o milho é o principal
fornecedor de energia tanto para a alimentação humana quanto animal”, afirma
Guadagnin.
Seja cozido, na pamonha, como pipoca, no bolinho,
o ingrediente faz parte do cardápio dos brasileiros de norte a sul. Além do
sabor, o milho é uma grande fonte de energia, com alto nível de carboidratos,
vitaminas B1 e sais minerais. E não se pode esquecer da sua importância também
para a alimentação animal, sendo o principal componente da maioria das rações.
O cultivar está em quarto lugar na lista de produtos da agricultura familiar,
perdendo apenas para arroz, feijão e mandioca. Segundo o senso agropecuário de
2006, foram mais de 42 mil toneladas de milho - o equivalente a mais de 48% da
produção brasileira.
O grão também é recomendado para processos de
sucessão de culturas – quando a mesma área é utilizada para cultivares que dão
em épocas diferentes do ano – e para rotação de culturas, em geral revezando
seu plantio com o de uma leguminosa, promovendo assim a nitrogenação do solo.
Em termos tecnológicos, o milho é a cultura que
mais evoluiu no Brasil nos últimos anos, favorecendo principalmente os
agricultores familiares, a partir do momento que passa a apresentar maior
produtividade sem demandar grandes espaços para plantio. O resultado disso é
que a maior parte do milho verde que abastece os municípios brasileiros é
produzido pela agricultura familiar.
Modo de produção
Há mais de 10 anos, quando assumiu a
administração do sítio dos pais, no município de Arroio do Tigre (RS), Leomar
Fiuza não acreditou que conseguiria tomar conta do lugar. Sem dinheiro para
produzir e sem qualquer ajuda técnica, pensou que a única saída era sair do
campo para trabalhar na cidade. Foi quando ficou sabendo das linhas de crédito
para agricultores familiares do MDA e resolveu fazer uma última tentativa. “Se
não fosse pelos financiamentos que conseguimos, não teríamos condições de nos
manter no meio rural”, afirma.
Desde 2001, a família Fiuza recebe crédito do
Pronaf Custeio para financiar o plantio de milho, arroz, batata doce e outros.
Mas essa não é a única forma que o ministério participa da geração de
renda no sítio. Além do Pronaf Custeio, Leomar já teve acesso ao Programa de
Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF), ao Programa de Garantia
da Atividade Agropecuária (Proagro), à assistência técnica (Ater) e,
recentemente, passou a vender parte da produção para o Programa de Aquisição de
Alimentos (PAA) e Programa Nacional da Alimentação Escolar (Pnae).
Na propriedade de 12 hectares, o milho é a
cultura mais importante, representando mais de 50% do que é produzido pela
família. “O milho é essencial para a sobrevivência de toda a propriedade”,
conta Leomar. O grão é usado para alimentação dos animais - galinhas e porcos -
e para a alimentação da família. Ao todo, quase 80% da produção é para
autoconsumo. O excedente é vendido, tanto o grão como a semente crioula.
A semente crioula é aquela cultivada e
selecionada ano após ano pelo próprio agricultor. Em geral, elas são melhor
adaptadas à região e ao sistema de produção utilizado e, tendem a precisar de
menos adubos químicos e agrotóxicos. Outra vantagem, além do baixo custo da
semente, é a grande variedade das plantas produzidas – um fator que dificulta a
perda de toda a produção em caso de problemas na safra.
À medida que o agricultor produz a própria
semente, ele está fugindo das mudanças no mercado e criando um produto que
respeita as características socioambientais da propriedade, como o tipo de
solo, clima e volume de chuvas. Hoje, mais de 30 variedades de sementes
crioulas já são utilizadas por agricultores familiares, em todo país.
“A produção só vai para frente porque trabalhamos
com a semente crioula. Se tivéssemos que gastar comprando sementes,
provavelmente não conseguiríamos”, acredita Leomar. Ainda que a produtividade
da semente crioula seja menor, o gasto com insumos e defensivos agrícolas
também é. “O cultivo das variedades crioulas é mais simples. O indivíduo pode
produzir sua própria semente e aproveitar os resíduos orgânicos da propriedade
para adubar a produção. Com isso, além de diminuir os custos, ele tem um
produto mais saudável e com valor de mercado maior”, afirma o engenheiro
agrônomo Odilon Flávio da Costa.
Apesar das vantagens das sementes crioulas e do
sistema agroecológico, ainda são poucos os agricultores que aderiram à técnica.
A maioria ainda planta segundo o sistema convencional, com sementes modificadas
e alta utilização de insumos químicos. No entanto, o MDA e outros órgãos do
Governo Federal estão estudando formas de aumentar o plantio agroecológico,
principalmente nas propriedades familiares, de modo a reduzir ou eliminar
totalmente os insumos químicos, otimizando os recursos da propriedade agrícola
por meio de técnicas específicas de manejo de solos e das lavouras.
Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar
Financiar projetos individuais ou coletivos que
resultem na geração de renda para agricultores familiares e assentados da
reforma agrária: esse é o objetivo do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Além de dispor das mais
baixas taxas de juros, o programa apoia financeiramente as atividades
agropecuárias e não agropecuárias do produtor rural e sua família e destaca-se
também por ter os menores índices de inadimplência do Brasil.
As contratações do crédito apresentam crescimento
sustentado ao longo dos anos. Para os produtores de milho, o valor financiado
passou de pouco mais de R$ 270 milhões, em 2000, para mais de R$1,3
bilhão, em 2011, quando quase 200 mil produtores familiares foram beneficiados
pelo programa. Ao todo, são mais de 4 milhões de agricultores familiares com a
Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) produzindo milho no Brasil.
Entre os beneficiados está o senhor Rosildo
Rodrigues de Freitas, de Santa Rosa do Purus (AC). Ele divide a propriedade de 70
hectares, 22 dos quais cultiváveis, com mais três famílias: a da mãe, a da irmã
e a do filho. No total são 14 pessoas vivendo da terra. Para executar seu
trabalho ele conta com a ajuda do MDA , desde 2002, quando soube da existência
do Pronaf. “Só começamos a produzir mesmo quando passamos a pegar o
financiamento, até então o que produzíamos mal dava para comer”, conta Rosildo.
O cultivo
mais importante no sítio é o milho, que apesar de não ser o mais rentável é o
que mantém todos os outros. “Sem o milho eu não teria condições de criar outras
coisas. É com ele que alimentamos todos os animais como as galinhas, as vacas e
os peixes. Também é um dos ingredientes principais das nossas refeições”,
ressalta.
O Pronaf
custeio e o Mais Alimentos - linha de crédito do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) - são os principais responsáveis pela
sobrevivência da propriedade. O custeio anual permitiu ao agricultor a
continuidade da produção e a aquisição de um trator por meio do Mais Alimentos
tornando o plantio mais eficiente e menos trabalhoso. “Agora nós vivemos bem,
não ganhamos muito dinheiro, mas dá para comer e ainda sobra um pouquinho”,
alegra-se o agricultor.
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