Às Delegacias Federais de Desenvolvimento Agrário compete monitorar, supervisionar e gerenciar as atividades relacionadas às atribuições legais do Ministério, nos Estados e no Distrito Federal, sob orientação da Secretaria-Executiva. (DECRETO Nº 7.255, DE 4 DE AGOSTO DE 2010).

sexta-feira, 1 de junho de 2012


Moda artesanal será exposta na Rio+20
01/06/2012 12:38

A moda sustentável produzida pela agricultura familiar brasileira, confeccionada de modo econômico e sustentável a partir de matéria-prima local com apoio do projeto Talentos do Brasil, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceria com Sebrae, estará em exposição na Rio+20 – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável –, entre os dias 16 e 22 de junho. Os empreendimentos, oriundos de doze estados, estão entre os 23 a serem mostrados pelo MDA nos 540 metros quadrados da Praça da Sociobiodiversidade, e darão um colorido especial ao palco das discussões internacionais que reunirão chefes de Estado e sociedade civil de 13 a 22 de junho no Rio de janeiro (RJ).
Ao decidir criar uma associação que produzisse artesanalmente acessórios femininos, no início dos anos 2000, Marlene Barbosa Mendonça não havia sequer imaginado que um dia as bolsas, pulseiras e colares fabricados seriam expostos em um evento de repercussão mundial, como a Rio+20. “A gente fica emocionada, nem imagina uma coisa tão extraordinária como essa”, afirma a produtora, que preside a Cooperativa dos Artesãos Mulher Peixe (Coopeartepeixe), localizada no município de Coxim (MS).
Com um ano e cinco meses de existência, a cooperativa  surgiu dos trabalhos desenvolvidos na Associação Reciclando o Peixe (Arpeixe), que continua em atividade e é mantida por parte dos integrantes da Coopeartepeixe. A reclassificação do empreendimento ocorreu em decorrência do aumento das demandas recebidas e, consequentemente, da necessidade de vender os produtos para mais lojas e empresas. Com esse cenário, a expansão dos negócios encontraria alguns impedimentos jurídicos se os produtores permanecem agrupados em uma associação.
A cooperativa é formada por 25 produtores familiares, dentre eles 20 mulheres. De acordo com a presidente da Coopeartepeixe, os homens não trabalham direto com a produção. “Eles ficam na parte da gestão, da estruturação da cooperativa”, diz Marlene.
Desenvolvimento sustentável
Mesmo distantes das grandes discussões, Marlene e os produtores familiares da cooperativa há anos trabalham alinhados ao tema defendido pela conferência: o desenvolvimento sustentável. As peças comercializadas pelas artesãs são produzidas a partir do couro do peixe in natura, que elas adquirem na região. Todo o tratamento da matéria-prima é feito sem química, com extrato vegetal. Desse modo, as mãos habilidosas transformam em arte o que seria descartado.
Quando lembra da maneira como a cooperativa foi concebida, Marlene se emociona. “Com a escassez dos pescados, comecei a ver o pessoal ribeirinho indo para a zona urbana. Mas nas cidades, geralmente, eles não estavam preparados para os postos de trabalho e aí vinha o choque social. Pensei nesse tanto de couro de peixe e de mulher desempregada, precisando de um emprego”, conta.
Passado algum tempo, a cooperativa já colhe bons frutos. Produz, em média, 1,5 mil peças mensais em um núcleo próprio para a produção. Atualmente,  trabalha para atender à demanda de uma empresa  brasileira que fornecerá os produtos da Coopeartepeixe para a cidade de Dallas, nos Estados Unidos.
Há pouco, eles também exportaram para a França e a Alemanha. As vendas foram viabilizadas pelo programa Talentos do Brasil, uma iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário que conta com parcerias importantes, como o Sistema Brasileiro de Apoio às Pequenas e Micro Empresas (Sebrae), a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit),o Pacto de Cooperação Brasil e Alemanha Deutsche Gesellschaft für Technische Zusammenarbeit (Giz) e Ministério do Turismo. As parcerias também incluem os movimentos sociais e movimentos sindicais que promovem o intercâmbio eficaz entre artistas e mercado.
“É o Talentos do Brasil que dá o suporte necessário para a gente poder fabricar, mostrar e comercializar os produtos fabricados. O programa é minha madrinha. Não teríamos a oportunidade de mostrar nossos produtos, de estar no mercado e na internet se não tivesse um apoio muito forte do MDA no programa”, afirma.
Acessórios femininos
Para a Rio+20, a Coopeartepeixe levará sua coleção de acessórios femininos. O destaque ficará para a bolsa de franja, o carro-chefe dos artesãos e campeã de vendas. Em exposição, os participantes da conferência conhecerão ainda a linha de souvenires da cooperativa, com agendas e blocos de anotação. “Teremos a oportunidade de apresentar nossos produtos para pessoas de fora do país, que levarão a imagem do projeto. Com isso, teremos mais possibilidade de expandir o mercado, de comercializar e de trazer mais mulheres para a cooperativa”, afirma Marlene.
A expectativa é compartilhada pela presidente da Cooperativa das Bordadeiras de Alagoa Nova (Cooban), Ana Glória dos Santos Costa. “Queremos divulgar nosso trabalho, mostrar para as pessoas o tesouro que temos, todo feito a mão, que não se acha em qualquer lugar. Estamos cheias de esperanças com as possibilidades de vendas e de contatos”, explica.
Formada por 25 bordadeiras e cinco costureiras, a Cooban está situada  na cidade de Alagoa Nova (PB) e aproveitará a passagem pela conferência para lançar oficialmente sua última coleção, intitulada “Flores”. Ana Glória explica que as peças são bordadas de acordo com as flores que as cooperadas encontram no agreste. “O que a gente tinha no jardim a gente conseguiu levar para o vestuário”, fala.
Ao todo, a cooperativa levará 25 unidades de cada peça da colação, que é composta por vestidos, blusas, saias e coletes. De acordo com a presidente da Cooban, a participação na conferência só é uma realidade por causa do programa Talentos do Brasil. “A gente tem limite. Não teríamos estrutura para fazer exportação, ter assistência de uma equipe de mercado especializada, comprar estande em feiras de outros estados, sem falar na divulgação na internet. E o projeto faz tudo isso para gente. Por meio do Talentos do Brasil, a gente ganha o mundo, não há fronteiras. É a maior rede de divulgação para a cooperativa”, conta.
Criado em 2005, o programa Talentos do Brasil reúne 18 grupos de  cooperativas singulares de todo o País, que estão organizadas comercialmente na Cooperativa Central Única das Artesãs, a Cooperúnica. Durante a realização da Conferência Rio+20, os produtos de todas as cooperativas serão expostos e comercializados no estande do MDA, com 540 metros quadrados, localizado na Praça da Sociobioversidade.
"Teremos uma mostra bem rica dos produtos dos nossos principais biomas, o que demonstra a capacidade de gerar renda preservando e utilizando com sustentabilidade a mega biodiversidade que o Brasil tem e o conhecimento tradicional do nosso País", avalia o diretor do Departamento de Geração de Renda e Agregação de Valor do ministério, Arnoldo de Campos.
Os empreendimentos
Conheça os empreendimentos do programa Talentos do Brasil que serão expostos no estande do MDA na Rio+20:
Mapa brasileiro da moda artesanal
AmazonasGrupo Florestas: Fibra de juta, cipó ambé e titica, sementes, sobras de madeira e de látex com um toque de detalhes coloridos em chita. Com esse material, 39 artesãs de duas comunidades às margens do Rio Madeira e outra da cidade de Manicoré, a 390 quilômetros de Manaus, fazem bolsas, chapéus e acessórios. Os homens colhem o látex para produzir borracha e as mulheres aproveitam a sobra em delicadas peças de artesanato.
Bahia Grupos Canção de Bordar e Cá e Lá: No litoral norte baiano, 297 mulheres de Entre Rios e Mata de São João produzem cestos, bolsas, tapetes e acessórios com trançados de piaçava. Já do sertão vem o trabalho de artesãs de Santa Rita de Cássia, que bordam poesias e cantigas de roda em fitas coloridas e com elas fazem almofadas, cortinas, bolsas e echarpes.
MaranhãoGrupo Linho dos Lençóis: As cerca de 250 mulheres de Barreirinhas e Tutóia, nos Lençóis Maranhenses, usam material como fios da palha de buriti tratados e tingidos com urucum, salsa, cebola e gengibre. Destaque para as técnicas como o crochê; o ponto batido, em que o cofo (instrumento artesanal de preparar a mandioca) serve para apoiar a linha e elaborar a tecelagem manual e o macramê com ponto cascudo, nome derivado do desenho das espinhas do peixe cascudo. Elas produzem colares, bolsas, chapéus e sandálias.
Mato Grosso do SulGrupo Mulher Peixe: São 40 pescadoras e mulheres de pescadores que trabalham com pele e couro dos peixes pacu e tilápia. Esse material é curtido, tingido e se transforma, graças à habilidade das artesãs, dando origem a bolsas, carteiras, colares, pulseiras e mantas. Diretamente dos rios do Centro-Oeste para as mãos das consumidoras.
Minas GeraisGrupos Família Mineira e Linha do Horizonte – Cara do Sertão:  Os trabalhos manuais mineiros são dos grupos Cara do Sertão (47 artesãs) e Linha do Horizonte, de Salinas, Novorizonte e Barrinha, no Norte do Estado. Participa também o grupo Família Mineira, com 22 mulheres de seis municípios do Triângulo Mineiro que fazem bordados de linhas e pedras, crochê e trançado. O bagaço de cana é usado em bijuterias.
ParáGrupo Tururi de Muaná: O tururi envolve e protege os cachos de coco da palmeira amazônica conhecida como “buçu”. Um material delicado trabalhado com paciência e precisão por 40 artesãs da comunidade de Muaná, na Ilha de Marajó. Entrelaçar as fibras do tururi é um momento importante nesse processo do “fazer”, que dá origem a bolsas, chapéus, sacolas, presépios e bonecas.
ParaíbaGrupo Dois Pontos e Copnatural: Envolve artesãs dos municípios de Alagoa Nova, Ingá, Riachão do Bacamarte, Serra Redonda e Juarez Távora. Técnicas como labirinto, renda renascença, algodao organico e bordado fazem parte da cultura ancestral das mulheres desses municípios do Agreste da Paraíba, que hoje exercitam sua arte tendo como suporte o linho, o tricoline, o crepe e o algodão. O resultado é uma linha de moda praia com batas, vestidos, bonés e saídas de praia leves e confortáveis. São 180 artesãs.
PernambucoGrupos Bordados Que Brotam e Renda Renascença: A comunidade de Varjadas, na zona rural de Passira, produz bordados delicados. Além disso, 30 artesãs de Pesqueira trabalham com renda renascença, tradição vinda da Itália. Elas confeccionam vestuário, conjuntos de cama, mesa e banho e acessórios.
Piauí Grupo Rendas e Bordados do Piauí: São 48 mulheres organizadas em dois grupos: Rendeiras do Delta do Parnaíba, na região turística do Portal do Delta, que executam a delicada renda de bilro; e o grupo do município Buritis dos Lopes, que faz o ponto de cruz, herança tradicional da cultura portuguesa. Essas duas técnicas são empregadas na execução de roupas femininas, peças de cama e acessórios. É a renda gerando renda.
Rio de JaneiroGrupo Taboa de São Francisco: As fibras trançadas da planta aquática chamada taboa aumentam a renda de 25 mulheres do grupo Taboa de São Francisco, do distrito de Barra do Furado, município de Quissamã, no Norte Fluminense. Elas fazem pufes, bolsas, cestos, colares e objetos utilitários.
Rio Grande do Sul - Grupo Lã Pura: A lã de ovelhas e carneiros da raça crioula é tingida, fiada e transforma-se em xales, mantas e echarpes. Já a crina de cavalo é trabalhada para ser empregada na confecção de bijuterias e bolsas, com uma proposta que une o tradicional ao contemporâneo. Tudo isso é o resultado da criatividade do grupo Lã Pura, formado por artesãs de dois municípios das regiões de Fronteira do Oeste – São Borja e Uruguaiana.
TocantinsGrupo Babaçu Brasil: O grupo Babaçu tem 90 artesãos de empreendimentos coletivos formais e informais de Aguiarnópolis, Tocantinópolis, Nazaré, Luzinópolis, São Bento e Araguatins, na região do Bico do Papagaio. Eles trabalham com a palha e, também, com o coco da palmeira babaçu que, cortado, oferece múltiplas possibilidades estéticas e utilitárias. São bolsas de pastilhas de babaçu, jogos americanos, cestaria, saídas de praia, túnicas, esteiras de palha e biojoias.
Diversidade para o mundo
Durante a Rio+20, a Praça da Sociobiodiversidade e outras participações do MDA nas programações paralelas mostrarão a diversidade brasileira para o mundo, as inciativas de sustentabilidade da agricultura familiar por meio das ações da Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário e que este setor é estratégico para o desenvolvimento rural sustentável no país.
"A exposição de produtos oriundos das nossas florestas, produtos orgânicos da agricultura familiar vai ser muito importante para que o público presente na Rio+20 tenha contato direto, não só vendo como experimentando esses produtos e conversando com os expositores, que são agricultores", afirma o secretário da Agricultura Familiar, Laudemir Müller. Ele aponta que o evento terá uma rica mostra de produtos (dos biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica) com grande potencial de consumo e que demonstram a capacidade de gerar renda e ao mesmo tempo preservar, "usando com sustentabilidade a biodiversidade que o Brasil tem e o conhecimento tradicional do nosso país".
"O que a gente quer na Rio + 20 é mostrar essa iniciativa e fazer com que o mundo possa ter uma ideia que o Brasil é diverso, além de dar visibilidade para o segmento da agricultura familiar, para esta identidade social no país, que muitas vezes não é conhecida no exterior e que é tão importante para a economia, para a sociedade brasileira e para o meio ambiente", resume Arnoldo de Campos, diretor do Departamento de Geração de Renda e Agregação de Valor da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Na Praça da Sociobiodiversidade, que vai funcionar de 16 a 22 de junho, no Aterro do Flamengo, como parte da programação paralela da RIO +20, estarão 23 empreendimentos de agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais e produtos do Talentos do Brasil (moda). A praça ficará no espaço Arena Socioambiental, das 12h às 20h.
O diretor observa que o Plano Nacional da Sociobiodiversidade promove, a partir de uma articulação de instrumentos de políticas públicas, de atores sociais, empresariais e governamentais envolvidos com a temática, "a geração de renda com a floresta em pé", a partir de produtos que são feitos por comunidades rurais e oriundos da biodiversidade brasileira.

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