Moda artesanal será exposta na Rio+20
01/06/2012 12:38

Ao decidir criar uma associação que produzisse
artesanalmente acessórios femininos, no início dos anos 2000, Marlene Barbosa
Mendonça não havia sequer imaginado que um dia as bolsas, pulseiras e colares
fabricados seriam expostos em um evento de repercussão mundial, como a Rio+20.
“A gente fica emocionada, nem imagina uma coisa tão extraordinária como essa”,
afirma a produtora, que preside a Cooperativa dos Artesãos Mulher Peixe
(Coopeartepeixe), localizada no município de Coxim (MS).
Com um ano e cinco meses de existência, a
cooperativa surgiu dos trabalhos desenvolvidos na Associação Reciclando o
Peixe (Arpeixe), que continua em atividade e é mantida por parte dos
integrantes da Coopeartepeixe. A reclassificação do empreendimento ocorreu em
decorrência do aumento das demandas recebidas e, consequentemente, da
necessidade de vender os produtos para mais lojas e empresas. Com esse cenário,
a expansão dos negócios encontraria alguns impedimentos jurídicos se os
produtores permanecem agrupados em uma associação.
A cooperativa é formada por 25 produtores
familiares, dentre eles 20 mulheres. De acordo com a presidente da
Coopeartepeixe, os homens não trabalham direto com a produção. “Eles ficam na
parte da gestão, da estruturação da cooperativa”, diz Marlene.
Desenvolvimento sustentável
Mesmo distantes das grandes discussões, Marlene e
os produtores familiares da cooperativa há anos trabalham alinhados ao tema
defendido pela conferência: o desenvolvimento sustentável. As peças
comercializadas pelas artesãs são produzidas a partir do couro do peixe in
natura, que elas adquirem na região. Todo o tratamento da matéria-prima é feito
sem química, com extrato vegetal. Desse modo, as mãos habilidosas transformam
em arte o que seria descartado.
Quando lembra da maneira como a cooperativa foi
concebida, Marlene se emociona. “Com a escassez dos pescados, comecei a ver o
pessoal ribeirinho indo para a zona urbana. Mas nas cidades, geralmente, eles
não estavam preparados para os postos de trabalho e aí vinha o choque social.
Pensei nesse tanto de couro de peixe e de mulher desempregada, precisando de um
emprego”, conta.
Passado algum tempo, a cooperativa já colhe bons
frutos. Produz, em média, 1,5 mil peças mensais em um núcleo próprio para a
produção. Atualmente, trabalha para atender à demanda de uma
empresa brasileira que fornecerá os produtos da Coopeartepeixe para a
cidade de Dallas, nos Estados Unidos.
Há pouco, eles também exportaram para a França e
a Alemanha. As vendas foram viabilizadas pelo programa Talentos do Brasil, uma
iniciativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário que conta com parcerias
importantes, como o Sistema Brasileiro de Apoio às Pequenas e Micro Empresas
(Sebrae), a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit),o Pacto de
Cooperação Brasil e Alemanha Deutsche Gesellschaft für Technische
Zusammenarbeit (Giz) e Ministério do Turismo. As parcerias também incluem os
movimentos sociais e movimentos sindicais que promovem o intercâmbio eficaz
entre artistas e mercado.
“É o Talentos do Brasil que dá o suporte
necessário para a gente poder fabricar, mostrar e comercializar os produtos
fabricados. O programa é minha madrinha. Não teríamos a oportunidade de mostrar
nossos produtos, de estar no mercado e na internet se não tivesse um apoio
muito forte do MDA no programa”, afirma.
Acessórios femininos
Para a Rio+20, a Coopeartepeixe levará sua coleção de
acessórios femininos. O destaque ficará para a bolsa de franja, o carro-chefe
dos artesãos e campeã de vendas. Em exposição, os participantes da conferência
conhecerão ainda a linha de souvenires da cooperativa, com agendas e blocos de
anotação. “Teremos a oportunidade de apresentar nossos produtos para pessoas de
fora do país, que levarão a imagem do projeto. Com isso, teremos mais
possibilidade de expandir o mercado, de comercializar e de trazer mais mulheres
para a cooperativa”, afirma Marlene.
A expectativa é compartilhada pela presidente da
Cooperativa das Bordadeiras de Alagoa Nova (Cooban), Ana Glória dos Santos
Costa. “Queremos divulgar nosso trabalho, mostrar para as pessoas o tesouro que
temos, todo feito a mão, que não se acha em qualquer lugar. Estamos cheias de
esperanças com as possibilidades de vendas e de contatos”, explica.
Formada por 25 bordadeiras e cinco costureiras, a
Cooban está situada na cidade de Alagoa Nova (PB) e aproveitará a
passagem pela conferência para lançar oficialmente sua última coleção,
intitulada “Flores”. Ana Glória explica que as peças são bordadas de acordo com
as flores que as cooperadas encontram no agreste. “O que a gente tinha no
jardim a gente conseguiu levar para o vestuário”, fala.
Ao todo, a cooperativa levará 25 unidades de cada
peça da colação, que é composta por vestidos, blusas, saias e coletes. De
acordo com a presidente da Cooban, a participação na conferência só é uma
realidade por causa do programa Talentos do Brasil. “A gente tem limite. Não
teríamos estrutura para fazer exportação, ter assistência de uma equipe de
mercado especializada, comprar estande em feiras de outros estados, sem falar
na divulgação na internet. E o projeto faz tudo isso para gente. Por meio do
Talentos do Brasil, a gente ganha o mundo, não há fronteiras. É a maior rede de
divulgação para a cooperativa”, conta.
Criado em 2005, o programa Talentos do Brasil
reúne 18 grupos de cooperativas singulares de todo o País, que estão
organizadas comercialmente na Cooperativa Central Única das Artesãs, a
Cooperúnica. Durante a realização da Conferência Rio+20, os produtos de todas
as cooperativas serão expostos e comercializados no estande do MDA, com 540 metros quadrados,
localizado na Praça da Sociobioversidade.
"Teremos uma mostra bem rica dos produtos
dos nossos principais biomas, o que demonstra a capacidade de gerar renda
preservando e utilizando com sustentabilidade a mega biodiversidade que o
Brasil tem e o conhecimento tradicional do nosso País", avalia o diretor
do Departamento de Geração de Renda e Agregação de Valor do ministério, Arnoldo
de Campos.
Os empreendimentos
Conheça os empreendimentos do programa Talentos
do Brasil que serão expostos no estande do MDA na Rio+20:
Mapa brasileiro da moda artesanal
Amazonas – Grupo
Florestas: Fibra de juta, cipó ambé e titica, sementes, sobras de
madeira e de látex com um toque de detalhes coloridos em chita. Com esse
material, 39 artesãs de duas comunidades às margens do Rio Madeira e outra da
cidade de Manicoré, a 390
quilômetros de Manaus, fazem bolsas, chapéus e
acessórios. Os homens colhem o látex para produzir borracha e as mulheres
aproveitam a sobra em delicadas peças de artesanato.
Bahia – Grupos Canção de
Bordar e Cá e Lá: No litoral norte baiano, 297 mulheres de Entre Rios
e Mata de São João produzem cestos, bolsas, tapetes e acessórios com trançados
de piaçava. Já do sertão vem o trabalho de artesãs de Santa Rita de Cássia, que
bordam poesias e cantigas de roda em fitas coloridas e com elas fazem
almofadas, cortinas, bolsas e echarpes.
Maranhão – Grupo Linho
dos Lençóis: As cerca de 250 mulheres de Barreirinhas e Tutóia, nos
Lençóis Maranhenses, usam material como fios da palha de buriti tratados e
tingidos com urucum, salsa, cebola e gengibre. Destaque para as técnicas como o
crochê; o ponto batido, em que o cofo (instrumento artesanal de preparar a
mandioca) serve para apoiar a linha e elaborar a tecelagem manual e o macramê
com ponto cascudo, nome derivado do desenho das espinhas do peixe cascudo. Elas
produzem colares, bolsas, chapéus e sandálias.
Mato Grosso do Sul – Grupo
Mulher Peixe: São 40 pescadoras e mulheres de pescadores que trabalham
com pele e couro dos peixes pacu e tilápia. Esse material é curtido, tingido e
se transforma, graças à habilidade das artesãs, dando origem a bolsas,
carteiras, colares, pulseiras e mantas. Diretamente dos rios do Centro-Oeste
para as mãos das consumidoras.
Minas Gerais – Grupos
Família Mineira e Linha do Horizonte – Cara do Sertão: Os
trabalhos manuais mineiros são dos grupos Cara do Sertão (47 artesãs) e Linha
do Horizonte, de Salinas, Novorizonte e Barrinha, no Norte do Estado. Participa
também o grupo Família Mineira, com 22 mulheres de seis municípios do Triângulo
Mineiro que fazem bordados de linhas e pedras, crochê e trançado. O bagaço de
cana é usado em bijuterias.
Pará
– Grupo Tururi de Muaná: O tururi envolve e protege os cachos
de coco da palmeira amazônica conhecida como “buçu”. Um material delicado
trabalhado com paciência e precisão por 40 artesãs da comunidade de Muaná, na
Ilha de Marajó. Entrelaçar as fibras do tururi é um momento importante nesse
processo do “fazer”, que dá origem a bolsas, chapéus, sacolas, presépios e
bonecas.
Paraíba
– Grupo Dois Pontos e Copnatural: Envolve artesãs dos
municípios de Alagoa Nova, Ingá, Riachão do Bacamarte, Serra Redonda e Juarez
Távora. Técnicas como labirinto, renda renascença, algodao organico e bordado
fazem parte da cultura ancestral das mulheres desses municípios do Agreste da
Paraíba, que hoje exercitam sua arte tendo como suporte o linho, o tricoline, o
crepe e o algodão. O resultado é uma linha de moda praia com batas, vestidos,
bonés e saídas de praia leves e confortáveis. São 180 artesãs.
Pernambuco
– Grupos Bordados Que Brotam e Renda Renascença: A comunidade
de Varjadas, na zona rural de Passira, produz bordados delicados. Além disso,
30 artesãs de Pesqueira trabalham com renda renascença, tradição vinda da
Itália. Elas confeccionam vestuário, conjuntos de cama, mesa e banho e
acessórios.
Piauí
– Grupo Rendas e Bordados do Piauí: São 48 mulheres
organizadas em dois grupos: Rendeiras do Delta do Parnaíba, na região turística
do Portal do Delta, que executam a delicada renda de bilro; e o grupo do
município Buritis dos Lopes, que faz o ponto de cruz, herança tradicional da
cultura portuguesa. Essas duas técnicas são empregadas na execução de roupas
femininas, peças de cama e acessórios. É a renda gerando renda.
Rio
de Janeiro – Grupo Taboa de São Francisco: As fibras
trançadas da planta aquática chamada taboa aumentam a renda de 25 mulheres do
grupo Taboa de São Francisco, do distrito de Barra do Furado, município de
Quissamã, no Norte Fluminense. Elas fazem pufes, bolsas, cestos, colares e
objetos utilitários.
Rio
Grande do Sul - Grupo Lã Pura: A lã de ovelhas e
carneiros da raça crioula é tingida, fiada e transforma-se em xales, mantas e
echarpes. Já a crina de cavalo é trabalhada para ser empregada na confecção de
bijuterias e bolsas, com uma proposta que une o tradicional ao contemporâneo.
Tudo isso é o resultado da criatividade do grupo Lã Pura, formado por artesãs
de dois municípios das regiões de Fronteira do Oeste – São Borja e Uruguaiana.
Tocantins
– Grupo Babaçu Brasil: O grupo Babaçu tem 90 artesãos de
empreendimentos coletivos formais e informais de Aguiarnópolis, Tocantinópolis,
Nazaré, Luzinópolis, São Bento e Araguatins, na região do Bico do Papagaio.
Eles trabalham com a palha e, também, com o coco da palmeira babaçu que,
cortado, oferece múltiplas possibilidades estéticas e utilitárias. São bolsas
de pastilhas de babaçu, jogos americanos, cestaria, saídas de praia, túnicas,
esteiras de palha e biojoias.
Diversidade
para o mundo
Durante a
Rio+20, a
Praça da Sociobiodiversidade e outras participações do MDA nas programações
paralelas mostrarão a diversidade brasileira para o mundo, as inciativas de
sustentabilidade da agricultura familiar por meio das ações da Secretaria da
Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário e que este setor
é estratégico para o desenvolvimento rural sustentável no país.
"A
exposição de produtos oriundos das nossas florestas, produtos orgânicos da agricultura
familiar vai ser muito importante para que o público presente na Rio+20 tenha
contato direto, não só vendo como experimentando esses produtos e conversando
com os expositores, que são agricultores", afirma o secretário da
Agricultura Familiar, Laudemir Müller. Ele aponta que o evento terá uma rica
mostra de produtos (dos biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica) com
grande potencial de consumo e que demonstram a capacidade de gerar renda e ao
mesmo tempo preservar, "usando com sustentabilidade a biodiversidade que o
Brasil tem e o conhecimento tradicional do nosso país".
"O
que a gente quer na Rio + 20 é mostrar essa iniciativa e fazer com que o mundo
possa ter uma ideia que o Brasil é diverso, além de dar visibilidade para o
segmento da agricultura familiar, para esta identidade social no país, que
muitas vezes não é conhecida no exterior e que é tão importante para a
economia, para a sociedade brasileira e para o meio ambiente", resume
Arnoldo de Campos, diretor do Departamento de Geração de Renda e Agregação de
Valor da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), do Ministério do
Desenvolvimento Agrário.
Na Praça
da Sociobiodiversidade, que vai funcionar de 16 a 22 de junho, no Aterro do
Flamengo, como parte da programação paralela da RIO +20, estarão 23
empreendimentos de agricultores familiares, povos e comunidades tradicionais e
produtos do Talentos do Brasil (moda). A praça ficará no espaço Arena
Socioambiental, das 12h às 20h.
O diretor
observa que o Plano Nacional da Sociobiodiversidade promove, a partir de uma
articulação de instrumentos de políticas públicas, de atores sociais,
empresariais e governamentais envolvidos com a temática, "a geração de
renda com a floresta em pé", a partir de produtos que são feitos por comunidades
rurais e oriundos da biodiversidade brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário