Resultado de uma parceria
entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário, Incra e a Universidade
Federal de Minas Gerais, foi lançado nesta segunda-feira (14), em Belo
Horizonte, na sede da instituição pública de ensino, a coleção Terras de Quilombos.
As publicações trazem, em linguagem acessível, as informações contidas
nos relatórios antropológicos que relata a história dos quilombos e, por
consequência, da escravidão no Brasil.
O
projeto, sob a coordenação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas
(Fafich), prevê a análise de 190 laudos antropológicos de comunidades
quilombolas de vários estados, cujos territórios encontram-se em fase de
regularização fundiária no Incra. Nessa primeira fase, foram entregues
as coleções de 16 comunidades. O valor total do projeto é de R$ 2
milhões, sendo R$ 1,7 milhão do Incra e R$ 300 mil do MDA, por meio do
Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural (Nead). A cooperação
com a UFMG, iniciada em novembro de 2014, se encerra em novembro de
2016.
O lançamento foi prestigiado
pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, pela ministra
das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, Nilma Lino,
pelo reitor da UFMG, Jaime Ramirez, e por autoridades, representando os
governos federal, estadual e municipal, assim como por pesquisadores e
representantes de comunidades quilombolas.
“Estamos
reafirmando a dimensão da memória, a memória dos pobres, dos excluídos
daqueles que nos constitui, mas que foram historicamente tratados com
muita violência. Não podemos esquecer o que representou no Brasil, a
escravidão. Isso é um resgate daqueles que deram seu testemunho à
história do país”, destacou o ministro Patrus.
Na
sua análise, a ideia de que os negros e os indígenas eram inferiores
precisa ser superada. “Temos que reafirmar nossa dignidade, nosso
sentimento de pátria, de nacionalidade, na diversidade, nas diferenças, e
a esplêndida contribuição que os afrodescendentes deram, estão dando e
continuarão dando, à história e à cultura brasileira”, falou Patrus ao
citar Martin Luther King: ‘Não somos o que queremos ser, não somos ainda
o que vamos ser, mas não somos mais o que éramos’.
Registro na história
Para
a ministra Nilma Lino, a democracia será plena no Brasil se houver a
compreensão sobre a diversidade e o enfrentamento, visando à superação
das desigualdades. “Também temos que entender que temos desigualdades
históricas e elas são estruturantes. Essas desigualdades não só
socioeconômicas, elas são também raciais, de gênero, regionais”,
enfatizou. Segundo ela, há tempos se fala em direito quilombola,
regularização fundiária, em quilombos rurais, quilombos urbanos, de
situações que ainda não existiam. “Os povos e comunidades tradicionais
têm o mérito de fazer o Brasil mudar, de fazer com que o Governo Federal
promova políticas públicas que beneficiem todos esses cidadãos”.
Para
o reitor Ramirez, a universidade pública só tem sentido se, de fato,
aceitar os desafios de seu tempo e atender a toda a sociedade que a
sustenta, e não apenas a uma parte. “Senão, não pode ser chamada de
pública”.
Na avaliação do reitor da
UFMG, ao registrar parte da história, que é plural e que foi preservada
pelo esforço dessas comunidades, a universidade não faz mais do que sua
obrigação. “Trazer esse registro, para a forma escrita, é extremamente
importante. Sabemos do risco que se corre quando a história é contata em
uma só versão, por uma parte. E, ao trazer esta parte, riquíssima, da
nossa história, a Universidade dá um passo importante, junto com vocês,
de registrá-la, para que as desigualdades sejam diminuídas e para que
esse registro não apenas tenha valor histórico, mas possa também fazer
parte do nosso registro escrito”.
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