Elas já representam quase metade de toda a população rural
brasileira e há muito tempo ocupam funções essenciais para o
desenvolvimento agrícola. Nas lavouras, reservas extrativistas,
aldeias indígenas e nas comunidades quilombolas de todo o Brasil
encontramos mulheres responsáveis pela organização produtiva
local. Com participação cada vez mais ativa, as agricultoras
familiares contam com programas específicos do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) para fomentar sua autonomia
financeira.
As ações incluem desde a emissão de
documentos civis e trabalhistas, realizados pelos mutirões do
Programa Nacional de Documentação da Trabalhadora Rural (PNDTR),
até a disponibilização de linhas de investimento diferenciadas
que financiam projetos de interesse da mulher agricultora, como as
oferecidas pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar Mulher (Pronaf Mulher). “O MDA e o Incra têm diversos
instrumentos de apoio às mulheres do meio rural. Um conjunto de
programas que permite à agricultora familiar se organizar e
construir sua própria autonomia”, explica o ministro do MDA, Pepe
Vargas.
Outro benefício importante é a
titulação de terra conjunta dos lotes da reforma agrária para
homens e mulheres casados ou em união estável. Direito que a
agricultora familiar Rosineide Souza da Silva, 51 anos, já possui.
Moradora do Projeto de Assentamento Benfica, no sudoeste do Acre,
desde 1988, dona Rosinha, como é conhecida na região, encontrou no
loteamento o espaço que precisava para investir na produção
familiar geradora de renda sustentável.
Nos primeiros anos de assentada, Rosinha
se dedicava a ajudar o marido, Gilberto Alves da Silva, 62, na
plantação e comercialização da cana-de-açúcar. Na propriedade
de 28 hectares, o casal ainda criava gado leiteiro, frango para
corte e plantava mandioca. A rotina da agricultora começou a mudar
em 2005, quando decidiu reunir um grupo de mulheres do assentamento
e formar uma cooperativa. “Eu via a ociosidade das mulheres do
assentamento e me preocupava com isso. Foi quando propus a criação
de uma cooperativa de mulheres para usarmos o cupuaçu, que é
abundante aqui e todo ano via estragar porque sobrava muita fruta”,
ressalta.
Desse modo, surgiu a Cooperativa de
Mulheres Produtoras de Benfica. Presidida por Rosinha, a entidade se
especializou em fabricar produtos à base da fruta, como tortas,
geleias, cocadas, bombons e doces. Todos vendidos em feiras
estaduais e nacionais e nos supermercados da capital Rio Branco, a
oito quilômetros de distância do assentamento. “Moramos muito
perto da cidade e achamos que seria viável aproveitar a proximidade
para tirarmos a renda da nossa terra. Achei que deveria investir
naquilo que sei fazer de melhor, ao invés de trabalhar para outras
pessoas”, relembra.
Mulher empreendedora
A criação da cooperativa foi
motivadora para Rosinha, que intensificou sua produção em 2011 ao
criar também um empreendimento próprio, o G7. Com isso ela passou
a produzir salgados e tortas, além dos doces de cupuaçu. A
inovação aumentou as encomendas e as vendas dos produtos. Com mais
demanda, Rosinha passou a ter a ajuda do marido e de mais duas
pessoas.
“Hoje em dia, ele se envolve mais com
a minha produção que com a dele. Imaginava um dia isso, mas via a
realização muito longe. Ainda não conseguimos contabilizar o que
vendemos por ano, mas sei que é o suficiente para o nosso
sustento”, completa a agricultora que ainda é responsável por
outra entidade, a Associação dos Produtores Rurais de Raimundo
Melo.
Rosinha faz questão de explicar que
toda matéria-prima usada em seu empreendimento vem de sua
propriedade. “A gente entende que mora no sítio e tem que viver
da terra. Temos que fazer a terra produzir”, declara Rosinha que
recorre aos cursos de capacitação e o apoio dos serviços de
Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) para continuar
aperfeiçoando seu empreendimento.
De olho na
expansão das vendas, a agricultora planeja comercializar seus
produtos para os mercados institucionais do Programa de Aquisição
de Alimentos (PAA) e do Programa Nacional de Alimentação Escolar
(Pnae), em breve.
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